Ainda é cedo para dizer se tratar de uma tendência, ou apenas uma experiência, mas o mordomo Crô, da novela "Fina Estampa" (2011-2012), é o protagonista de um filme.
Recentemente, o mesmo aconteceu com Giovanni Improtta, de "Senhora do
Destino" (2004-2005). Em comum, o mesmo criador: o novelista Agnaldo
Silva, que aqui também assina o roteiro. Marcelo Serrado ("Malu de
Bicicleta") novamente interpreta Crô, que, agora rico, procura formas de
passar o tempo.
Ao receber a herança de sua ex-patroa (Christiane Torloni, que não
aparece no filme), Crodoaldo Valério enriqueceu, contratou sua ex-colega
de trabalho, Marilda (Katia Moraes), para ser sua governanta, e o
motorista Baltazar (Alexandre Nero), por quem é apaixonado, mas com quem
vive brigando.
O perfil do personagem não mudou em relação à novela, desprezando-se a
necessidade, no cinema, de uma trama mais consistente e bem-amarrada em
relação ao folhetim.
Para matar o tempo, Crô tenta trabalhar como cantor, cabeleireiro e
estilista - mas em nenhuma carreira é bem-sucedido. Logo no início, é
visto cantando "Na Tonga da Mironga do Kabuletê", enquanto é vaiado.
Então, resolve que voltará a ser mordomo, por puro prazer de trabalhar.
Mas, ao invés de ser selecionado para uma vaga, será ele quem
selecionará sua nova patroa.
Há uma desculpa determinista para essa obsessão em ser mordomo.
Conforme Crô se lembra, fez uma promessa à sua mãe (interpretada pela
cantora Ivete Sangalo) - a quem venera com uma estátua em tamanho
natural no hall de sua mansão - de sempre servir às divas.
Poderia ser algo pelo menos divertido se o filme se mantivesse nessa
linha, peruas querendo contratá-lo, ele tentando se adaptar num novo
trabalho, coisas nesse sentido. Mas "Crô - O filme" quer ser sério - ou,
ao menos, tenta.
Uma das candidatas a patroa é Vanusa (Carolina Ferraz), nova-rica que,
com o marido Riquelme (Milhem Cortaz), tem uma confecção onde mantém
imigrantes latino-americanos clandestinos em regime de escravidão. A
moça insiste que quer Crô em sua casa como seu funcionário, o que o leva
a fazer uma investigação mais severa da vida da moça, colocando o
esquema dela e do marido em risco.
Na direção, Bruno Barreto ("Flores Raras") transita entre o humor que
beira o pastelão e o suspense sem parecer confortável em nenhum dos
dois, gerando cenas de perseguição e situações muito improváveis.
Se levar personagens de novela para cinema é uma tendência que veio
para ficar, que tal então fazer um filme sobre Carminha (Adriana
Esteves, em "Avenida Brasil"), que é um personagem mais complexo e
interessante?
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